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[Ato 1] As Maneiras dos Brutos

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Mensagem  Saturno Qua 15 Set 2010, 01:45

[color=orange]Em Crom se fala que um homem ou uma mulher, ao morrer, ganham o céu. Todo dia alguém morre, e toda noite uma nova estrela surge lá no alto. Não importam os atos dos homens, seu destino é certo. Tanto faz quão miserável ou difícil é a vida, quanto sangue se perde e quanto se ganha, não importa ter ou não riquezas, ser homem ou mulher, todos morrem, sem exceção. E os antepassados, amigos, família, rivais e inimigos observam a tudo e a todos lá de cima.

Esse pensamento fatalista e frio sobre a própria existência faz do povo Cromita um povo prático e digno, capaz de simplesmente viver com aquilo que tem. Para eles, não importa a morte, a dor, a fome, o ouro, o amor. Nenhuma dessas coisas é capaz de estremecer a convicção de um Cromita. É pela capacidade de olhar nos olhos da morte e não sentir desespero, que os homens de Crom diferenciam-se do resto.

Mas em Oromet não há uma única estrela na noite.

O céu era um infinito de nuvens acinzentadas, que se estendia até onde a vista alcançava. Era como ter um teto sobre a cabeça o tempo todo, causando uma sensação de desconforto e falta de liberdade. E antes das chuvas, a própria abóbada sobre a terra parecia inchar, antes de se romper derrubar e sufocar tudo e todos com água e trovões.




-Você precisa comer. Tome.

O jovem despertou Maeve de seus devaneios com um prato de ensopado fumegante que ele colocava diante dos olhos da mulher. Mais longe dali, homens e mulheres passavam pratos, pães e jarros de um lado para outro, aglomerados ao redor do grande caldeirão colocado bem no meio do acampamento. As carroças protegiam as pessoas do vento forte, colocadas em círculo ao redor do fogo e dos barracos.

Após entregar a comida para a selvagem, o rapaz sentou-se ao seu lado, empurrando alguns gravetos para longe afim de abrir espaço. Com o prato quente em suas mãos, Maeve sentiu aroma forte vindo do ensopado de coelho. -É açafrão. -Disse Collin, abrindo um sorriso por baixo da barba. Temperos eram caros, principalmente vindos do oriente, o que apenas confirmava para Maeve que aquelas famílias que ela havia encontrado na rota para Falkirk eram de comerciantes tradicionais de algum lugar do oeste, provavelmente da capital.

Collin, como quase todos ali, vestia-se bem e usava tranças nos cabelos. Ele era jovem, e desde o primeiro dia em que a selvagem encontrou aqueles viajantes, ele demonstrou interesse pela guerreira. Ele tinha olhos verdes bem vivos, que estavam bem a vista graças a uma tiara que ele usava para afastar os grossos cabelos para fora do rosto. E Maeve podia sentir esses olhos verdes percorrendo as suas costas, subindo e descendo, passando pelos cabelos e pelo pescoço.

-Por que você não se junta aos outros? Meu tio Magrir está se sentindo generoso após algumas canecas de cerveja e tudo indica que ele abrirá alguns jarros daquele vinho de Rhosgobel que lhe falei.

O jovem oromense não tinha como saber da natureza primitiva de Maeve, e de seus costumes solitários. Ela, claro, não teria se juntado a uma caravana de comerciantes a menos que fosse realmente necessário. Três noites atrás, enquanto procurava abrigo para uma tempestade violentíssima que começara, a selvagem deixou-se enganar pela escuridão e pisou em falso ao cruzar um caminho estreito em uma cordilheira. Teve sorte de não morrer, mas a queda tirou-lhe a consciência até ser encontrada por aqueles viajantes. O fato deles carregarem muitos alimentos e provisões foi o suficiente para mantê-la por perto, já que seus próprios mantimentos e equipamento de caça haviam sido perdidos na tempestade.

-Trocar algumas palavras com o resto de nós não vai ferir, sabia? -Disse o filho de comerciantes, encurvando-se da posição onde estava para tocar o ombro da guerreira.



-


-Eles estão comendo.


O amontoado de homens, encurvados e apertados dentro da gruta úmida e gotejante, virou suas várias cabeças em direção do sujeito que entrava desajeitadamente pela estreita boca do lugar. -Eles levantaram acampamento e estão comendo. -Disse o criminoso, aproximando-se dos espetos com carne que gotejavam sal e sangue sobre a pequena fogueira. -Breno e Craig estão vigiando eles. -Grunhiu ele enquanto puxava para seus dedos sujos e lábios sedentos uma das pequenas aves assadas.

O líder do bando, uma figura grande coberta por uma pele de urso ainda maior que ele, molhou o grosso bigode numa bebida fermentada forte e inebriante, chamada beath, e passou o único olho diante da multidão de rostos iluminados pela fogueira, até parar na face do recém chegado, que mastigava ruidosamente a comida.
-E com o que devemos nos preocupar? -Questionou com o olho dando voltas na face do subordinado e com o dedo alisando a ponta da grande faca que tinha na mão grosseira.

-Pouco. -Falou o explorador, puxando um fiapo de carne preso no canto do rosto oleoso. -Contam com cinco mercenários, mas só um arco. De resto, dois punhados de gordos comilões de Sorondil que cagarão saiote abaixo quando virem aonde estão enfiados.

Gargan entreolhou seus homens mais uma vez, e abriu um sorriso horrível de feio por baixo do bigode. -Eu não sei quanto a vocês, mas essa me parece uma ótima oportunidade para colocar em prova a capacidade dos nossos mais novos amigos! -Falou ele, embora suas palavras roucas mais parecessem rosnados. Aquela dúzia de sujeitos composta pela mais baixa corja de filhos da pilhagem e da imundície imediatamente concordou, erguendo canecas e rindo com suas bocas fartas em barba e pobres em dentes.

Camus e Temudjen se entreolharam, enquanto os olhos de todos os outros na gruta caíam sobre a dupla. O khúndio e o taliskano estavam com Gargan há pouco tempo, mas não por vontade própria. Gargan e seus homens imundos rastejavam pelas pedras do sul atrás de tudo o que pudessem roubar e pilhar, e sua massa de homens incha cada vez que um andarilho solitário é encontrado, pois a seguinte oferta lhe é dada: ou se torna um colega de trabalho, ou morre.

Tanto Temudjen quanto Camus eram acostumados a lidar com a mais baixa categoria de homens que as terras podem oferecer, e ambos viajam, cada um a sua sorte e a seu modo, atrás de serviços e dinheiro que surgem através da corja urbana. A questão é que ambos eram espíritos livres, e agora, apertados debaixo da asa de Gargan, eles simplesmente estão enjaulados e são obrigados a pensar antes de agir.


-E então? Uma semana de chuva e caça pobre, e então encontramos essa caravana! Já estava pensando que vocês estrangeiros haviam trazido azar para nós! Agora está na hora de mostrar trabalho. -Dizia Gargan, com as cicatrizes em seu rosto bem delineadas pela iluminação da fogueira. Ele gesticulava o facão na direção da dupla, e os dez homens ao seu redor perfuravam os estrangeiros com seus olhos miúdos.





Saturno
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Mensagem  Beto Qui 16 Set 2010, 18:14

12 homens... - Era o único pensamento que permeava a mente do nômade naquele instante. Analisava um a um há alguns dias, tentava descobrir suas fraquezas, suas forças e como poderia se livrar daquela situação. Não gostava deles, mas o rosto frio do guerreiro não o deixava demonstrar nada além de uma concentração inabalável. Talvez o olhar duro e impenetrável fosse a única herança decente que seu pai havia lhe deixado além de um arco longo que agora repousava desencordoado ao alcance da mão e da morte daqueles homens. Os olhos afiados dirigiram-se pra peça de caça que herdara, uma obra prima. Feita com casca de bétulas, várias camadas de tendão de bambu e por fim cinco camadas de chifres de antílope fervidos, seu pai havia dito que levou duas estações para que ele secasse e ficasse pronto, agora era inquebrável, e sua flecha voava para além da vista.

Podia usar a espada curta presa na cintura e matar os primeiros três ao alcance, com o arco, naquela gruta, seria fácil matar outros cinco antes que pudessem sacar as armas, mas ainda sobraria um número considerável de guerreiros. Guerreiros que como ele estavam acostumados a matar. Se sobrevivesse, os ferimentos o matariam em poucas horas e jamais poderia concluir sua vingança. Khun estava longe, mas sabia, no fundo do coração, que Jamuhka ainda vivia, ele tinha que viver. Nergüi perdera a conta de quantas noites rezou para o Pai Céu que mantesse seu inimigo vivo e saudável, ele teria o prazer de fazê-lo se esvair em sangue e clamar a liderança das Águias. Remexeu-se por baixo do dill de lã escura ao pensar em sua vingança.

A conversa não passou desapercebida pelo arqueiro, ouviu cada detalhe dito e ao ver a provocação imposta, finalmente dirigiu o olhar para o resto do bando. O olhar frio e impassível, como se toda a dureza das planícies de Khun estivesse carregada dentro daquele homem. - Então atacamos antes do Sol nascer. - Disse em uma voz limpa e levemente nasalada, porém forte o suficiente para ser ouvido sem problema algum dentro da gruta, uma voz típica de sua língua e região. O rosto brilhava quando iluminado pela fogueira revelando ainda o costume de esfregar gordura de carneiro ou iaque no rosto para se proteger do vento cortante, além de poder absorver a luz de maneira que não impedia quando disparava uma flecha contra o Sol. - Posso garantir cobertura com meu cavalo a até 600 pés de distância e posso garantir três mortes antes que eles percebam de onde as flechas vieram. - Soava determinado, convicto de uma estratégia, como se já tivesse feito isso inúmeras vezes. Enquanto o olhar permanecia imutável em um rosto de frieza indecifrável.

Se confiassem nele para aquele ataque, poderia ir abatendo cada membro do bando a distância, para finalmente se livrar daquela corja. Não era um mercenário, nem assassino, era um nômade livre. Vivera sim de pequenos assaltos a pastores em Khun para sobreviver, juntando um pequeno rebanho para poder sustentar sua iurta, que agora jazia amarrada em seu cavalo fora da gruta, mas não mataria por riquezas e futilidades. E isso era algo que nenhum membro daquele bando poderia saber.

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Mensagem  Zaol Sáb 18 Set 2010, 12:38

Ser tomado como "prisioneiro" - Realmente era uma coisa que Camus não imaginava estar lhe acontecendo. A honra entre piratas é uma coisa bastante diferente. Você vive junto à seu barco e sofre do mesmo destino dele. Dificilmente bandos rivais tem esse nível de "compaixão" para com seus "iguais". E isso tinha um claro motivo pra ser assim: Piratas não são as pessoas mais confiáveis do mundo - então confiar que ele esteja guardando suas costas é realmente um erro.

Mas aqueles 12 homens ali não sabiam de seu passado. Tomaram-no por um mero viajante armado, que sabia defender-se e resolveram explorar essa idéia.


-Eu não sei quanto a vocês, mas essa me parece uma ótima oportunidade para colocar em prova a capacidade dos nossos mais novos amigos!

Olha de canto para o líder daquele bando, e depois para o outro "novato", que tinha sido capturado nas mesmas circunstâncias que ele. Não era necessário ser nenhum psicólogo para notar que o mesmo nutria os mesmos sinais de desprezo por essa situação. Ele tinha um cavalo, pois quando o capturaram, o mantiveram com sua montaria. Além de um arco e uma espada curta. Certamente aquele homem sabia lutar melhor à distância.

- Posso garantir cobertura com meu cavalo a até 600 pés de distância e posso garantir três mortes antes que eles percebam de onde as flechas vieram.

Realmente estava certo. Sabia que podia confiar em seus instintos e deduções lógicas. Diferente do que seus companheiros poderiam achar de si, por seus métodos violentos, era um homem que, apesar da pouca idade, nutria de um belo poder de dedução e raciocínio.

- Acho que ele quis dizer que deveríamos atacar sozinhos, companheiro.

Como um teste. Eles mesmos não iriam querer se arriscar contra aquela caravana que era armada e defendida. Iriam apenas colher os resultados de nosso saque. Nada mais justo - quem tem poder, manda.
Sem querer debater mais sobre os planos de ataque na frente daqueles que só iriam observar de longe, Camus apenas faz um sinal com a cabeça para seu novo companheiro o seguir para o lado de fora, com o intuito de analisar melhor a situação, e apenas em particular revela o que tinha planejado.

- De qualquer forma gostei de seu plano. Acho que tu poderia chamar a atenção dos guardas atacando por um lado, a cavalo, e desaparecendo na escuridão, fazendo todas as atenções deles se concentrarem no lado do ataque, enquanto eu furtivamente me infiltro pelo outro lado, atacando os pelas costas. O que acha?
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Mensagem  Oráculo Seg 27 Set 2010, 13:45

Alguns poucos instantes antes do jovem aproximar-se, Maeve retomava mentalmente tudo que havia acontecido nas últimas horas. Seu corpo estava dolorido ainda da queda, mas ela não se lembrava de um dia sequer em que não sentisse as marcas deixadas pela dura vida em Crom na pele. Para ela, era algo normal. A jovem não entendia bem como havia sobrevivido, e a única explicação que encontrava era que ainda não era o momento de juntar-se aos seus antepassados ainda. Não temia a morte, mas também não fazia questão de antecipar esse encontro. Por isso, considerava que teve sorte. Sorte também foi como aquela caravana cruzou o seu caminho e, ironicamente, ela que protegia os viajantes em troca de dinheiro e provisões, dessa vez fora salva por um desses grupos.

Seus ouvidos treinados, que eram a forma como ela reconhecia as ameaças e mantinha-se viva na floresta, a avisaram de que alguém se aproximava, entretanto ela só abriu os olhos quando o jovem falou com ela. O barulho indicava que, próximo dali, todos eles estavam reunidos, e a jovem aceitou o prato das mãos do rapaz. Aquele prato tinha um cheiro forte, e não era algo que ela estava acostumada, embora já tivesse recebido tais especiarias como agradecimento de um viajante que salvara tempos atrás.

Completamente sem jeito a jovem de cabelos claros e longos tentou retribuir a gentileza do rapaz, esboçando algo que se assemelhava a um sorriso. Começou a comer, sem se importar muito com os modos, provavelmente o comerciante a acharia rude. O que mais lhe incomodava, no entanto, eram os olhos do rapaz percorrendo seu corpo, que ela notara desde que havia despertado. No entanto, nada falou. Não era prudente morder a mão que a alimentava, como ela mesmo aprendera a tanto tempo.

Não respondeu de imediato quando o jovem a convidou para ajudá-la com o grupo que fazia barulho próximo a eles, mas quando este fez menção em tocá-la, seu semblante rapidamente se fechou, e Maeve se afastou. Já havia terminado de comer, entregou o prato ao rapaz.

- Não tenho o costume de ficar em dívida com ninguém. Eu conheço o lugar, e sei dos perigos que ele guarda. Assim que retomarem viagem pela manhã, guiarei-os até um ponto que julgar seguro para que prossigam sem maiores intempérios Eu já dormi bastante, portanto ficarei em guarda, já que o barulho da reunião de seus homens seria capaz de acordar até mesmo a pior besta adormecida do outro lado da cordilheira.
– Maeve tentou dessa maneira dar o assunto por encerrado. Ela ajudaria os viajantes a cruzarem o caminho, era a maneira de pagar a dívida, por terem salvo sua vida. E apenas isso.
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Mensagem  Saturno Ter 12 Out 2010, 00:28

Collin sorriu para Maeve com uma face que expressava um misto de fascínio com curiosidade. O rapaz rico da capital encarava a selvagem como uma criança encararia um animal exótico na praça de comércio. Seu sorriso se tornou uma risada quando a mulher mencionou pagar alguma dívida, e Maeve imaginou se entre as famílias abastadas, o sentido de gratidão poderia ser diferente do que ela conhecia.

-Fico lisonjeado que queira nos retribuir de alguma forma, mas realmente não há necessidade. Meu pai e meu tio já cruzaram essas terras inúmeras vezes, e aquele senhor lá... -O jovem esticou o braço branco e apontou com o indicador um sujeito compenetrado sentado sobre uma pedra alta no centro do acampamento. Era um homem mais velho, no auge dos cinquenta anos, com olhos apertados e um arco curvo em mãos. -...passará a noite acordado com seus homens. Ele é um experiente guia que acompanha papai há alguns anos. Segundo ele, amanhã de manhã mesmo alcançaremos a Ponte da Lanterna e então, os portões de Falkirk. -Ele diminuiu um pouco o sorriso, passou os olhos do rosto da mulher para a forma que ela se alimentava, e então tentou passar certa tranquilidade e seriedade para a mulher, ajeitando sua postura para alinhar seu olhar ao dela. -Você está segura agora, não se preocupe.

O jovem aproximou mais seu rosto, desta vez balbuciando as palavras em um quase sussurro, como um amigo íntimo que troca confissões e tenta persuadir alguém. -Na cidade você poderá arrumar provisões, comida e roupa apropriada para continuar viajando, seja lá para onde for. Nessa época do ano há muita festa, dança e música na cidade. É muito bonito. Muitas cores, muita alegria.

-


Em um ambiente menos amigável, um nômade formulava idéias para matar. Temudjen tentava se convencer de que era possível, com habilidade e um pouco de sorte, atirar-se em meio aquele mar de olhos com uma arma em mãos e ainda assim sair vitorioso. Mas não adiantava. Mesmo que abrisse o pescoço do homem ao seu lado e fosse rápido o suficiente para puxar seu arco, sem dúvidas ele seria subjugado por uma correnteza de mãos, braços, pés, facas e panelas. Estavam em um lugar muito apertado e estreito, e de modo algum ele teria mobilidade para lutar se nem mesmo a janta tinha espaço para acontecer apropriadamente. Aquele lugar previlegiava o tamanho e a força bruta dos números e do próprio líder do bando.

E Gargan sabia disso, pela forma sorridente que encarava o khúndio e o taliskano.

Camus, ao contrário de Temudjen, já havia entendido há muito tempo que não escaparia daquela situação entrando em confronto direto, mais precisamente quando viu aquele urso caolho que liderava o bando em ação. O homem exercia seu papel de líder através da força e do medo, e com razão. Era um assassino hábil e cruel, calejado por uma vida de violência. Provavelmente ele mesmo era fruto de um estupro não diferente daqueles que promovia. Alguns homens expõem-se de tal forma à dureza da vida selvagem que desenvolvem uma harmonia com o ambiente que os cerca. Assim era Gargan. Grotescamente harmonioso com a pilhagem e com aquela região montanhosa.

Não, eles teriam que se livrar daquela corja através da inteligência, não da força.


-Mas é claro! -Rugiu Gargan com lábios úmidos de álcool, retesando os ombros como se tivesse a simples idéia dele se levantar e sair no frio para assaltar viajantes o ofendesse. -Não andamos com covardes ou inúteis. Provem que não são nenhum dos dois, e poderão viver conosco. Do contrário... -O grandalhão deslizou a sua grande faca no ar, próximo ao pescoço, e então começou a gargalhar, levando consigo a risada de seus companheiros que conseguiam ser mais fedorentos que ele.

-Gallac aqui vai lhes mostrar como alcançar Breno e Craig... -Disse o bruto, apontando o explorador que havia entrado na gruta há pouco e agora socava carne assada goela abaixo. -Uma vez lá, tomem aquela caravana a qualquer custo. Se Gallac estiver certo, haverá um guarda para cada um de vocês, acrescente um ou outro comerciante imbecil que tente bancar o herói. Não me importa como farão, desde que façam. E não tentem nada. Se eu levantar meu cu de perto desta fogueira, posso encontrar vocês a duas milhas de distância, e se eu encontrá-los, deixarei ambos enforcados em uma árvore na floresta.

-Há uma mulher também, chefe... e parece muito boa. Há algumas velhas e crianças, mas essa em especial chama atenção...-Disse, ou melhor, gargarejou o tal Gallac, pois agora afundava o beiço em uma garrafa de vinho.

Gargan arregalou seu único olho, alarmando-se com gosto e barulho. -ORA, mas isso é muito bom! Estávamos mesmo precisando de algumas vadias para aquecer nossos caralhos! -Imediatamente ele apontou a mão grande em direção da dupla. -Vocês! Não matem nenhuma mulher, a menos que queiram oferecer os serviços de uma quando voltarem, entendido? Agora vão. -Disse ele, com o apoio dos vermes que o cercavam.

Gallac terminou de virar o vinho dentro de sua boca e imediatamente cobriu-se com o capuz pesado de sua roupa. Ele se espremeu pela passagem escura que levava para o céu aberto, esperando que a dupla o seguisse. Se ambos quisessem um momento para trocar algumas rápidas palavras em privacidade, aquele seria um bom momento, pois estavam entre o barulho da roda de criminosos na fogueira e o silêncio das montanhas de Oromet.



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Mensagem  Zaol Seg 25 Out 2010, 21:59

Gargan e seus modos não repudiavam Camus. Esses métodos eram mais do que conhecidos para o talaskiano. Viveu anos e anos dentro de barcos e passando por portos imundos. Convivendo com os mais diversos tipos de bárbaros, ladrões, arruaceiros e piratas.

Tinha almoçado em espeluncas que fariam a maioria das pessoas vomitarem, e dormido ao meio de porcos, quando necessário era. Mas era justamente por isso que sabia que, apesar de um líder forte e determinado, ele era temerário demais para se manter vivo o tempo suficiente para virar uma lenda - mais cedo ou mais tarde ele iria terminar na beira de uma estrada, com corvos disputando para comer seus olhos.

A proposta que ele havia feito para seu companheiro Temudjen e para si mesmo era algo como um "batismo de fogo" para entrar em seu grupo. Mas a vontade de Camus era voltar para o mar. Ele julgou aquele ali e sabia que não era bom o suficiente para seguir.

No momento em que eles riam, comem e fazem bagunça, Camus troca um breve olhar com Temudjen como se mostrasse sua insatisfação naquele olhar, mas pretendia seguir com aquele plano que havia bolado com ele. Se eles fossem ser acompanhados dos outros 2 do grupo que haviam descoberto a caravana, seriam 4 ou 5 guardas, e mais algum possível herói. Sem contar a mulher que falaram que era... "diferente". Isso lhe intrigou..
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