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[Ato 1] Regalos do Trovão

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Mensagem  Saturno Ter 14 Set 2010, 22:57

Faltava pouco para amanhecer, mas fora do navio estava escuro como nunca.

O corpo de madeira do Peregrino Amigo subia e descia, sempre pesado, sempre lento, avançando pelas águas geladas do rio Trovão. A noite estava quieta, senão pelo bater das ondas no casco e das cordas rangendo. Redes de pesca estavam amontoadas aqui e ali, atrapalhando a caminhada no convés. Neste último dia de viagem, o Peregrino foi recebido por uma chuva pesada e mais recentemente, por uma espessa neblina que tornava tudo úmido. Segundo o dono do barco, isso significava que haviam alcançado o país de Oromet, sua terra natal. Em breve alcançariam o Portão Sul do reino: Falkirk.

Hann Chrisholm era um velho pescador que tocava uma vida errante ao lado de seus filhos. Por um preço razoável, a família de pescadores oferecia carona para viajantes solitários, sem perguntas, sem complicações, de um porto a outro ao longo do Trovão. E já faziam alguns dias que estavam acompanhados de dois estrangeiros.

Embaixo do convés ficava o dormitório. Albeon Halcourt e Felix Finn possuíam cada um uma rede, assim como os cinco filhos de Chrisholm. O lugar era abafado, com cheiro de suor, e por causa do teto baixo, era necessário encurvar-se para caminhar de um lado a outro. Distribuídos entre algumas vigas e paredes, haviam alguns lampiões a óleo, que forneciam uma precária iluminação ao ambiente. A família do pescador era acostumada a dormir sobre os cuidados da água, mas o balançar constante da embarcação tornava o sono daqueles dois viajantes uma tarefa bem difícil.

Albeon, deitado em sua rede, folheava as grossas páginas do livro de Carver. Os olhos azuis do Azurita passavam com fascinação pelas gravuras cuidadosamente pintadas naquelas páginas maltratadas. Deslizava as pontas dos dedos sobre o relevo de terríveis dragões de duas cabeças e de símbolos arcaicos de significado alienígena. Aquele livro havia sido escrito em mais de uma língua, quase todas desconhecidas pelo aventureiro. Apenas algumas anotações de rodapé feitas por Carver eram legíveis para Albeon, mas raramente faziam sentido pela falta de contexto.

Dessa forma, o Azurita se via obrigado a imaginar o que as muitas ilustrações ricamente desenhadas diziam, que histórias contavam. Uma das suas favoritas era a de um rosto feminino, branco, meio apagado, rabiscado em uma página solta dentro do livro. Os traços eram fracos, praticamente um esboço, mas seus olhos eram hipnotizantes. A tinta usada neles havia sido aplicada de tal forma que pareciam não ter fim. Não raro Albeon se pegava admirando aquele olhar. Perguntava-se se aquele era um retrato desenhado por seu amigo, a partir de alguém de carne e osso, ou era apenas uma obra de sua inspiração.

De qualquer modo, os mistérios daquele pesado diário chegariam a um fim. Finalmente Albeon estava chegando em Falkirk, e em Falkirk se erguia o grande Templo de Híspito. Na grande biblioteca daquele templo, a maior dos reinos nortistas, guardava-se grande parte do saber ancestral dos reinos antigos. E segundo os mestres de Azura, os monges deste templo certamente seriam capazes de decifrar a escrita de Carver. Talvez munido das informações corretas, Albeon possa descobrir o destino de seu colega.

Felix, o Coruja, por outro lado, carregava intenções mais interesseiras dentro daquele barco. Estava bem ao lado de Albeon, sentado em outra rede, com os dois pés descalços no chão de madeira e com muito zelo e cuidado, lustrava suas botas. Tinha carinho por aqueles calçados, pois eram sua última conquista. O couro que agora era banhado por óleo e ganhava um brilho bonito, era na realidade um couro mágico. Aquelas botas eram mágicas até nas costuras, mágicas até na origem. As havia adquirido recentemente, e custou para livrá-las do barro espesso das ruínas onde as encontrou. Quase tudo o que Felix tinha, na realidade, havia sido conquistado pelo seu ímpeto explorador.

Como todo cidadão de Portuna, Felix deixava-se levar. Pelas conversas, pelas promessas, pelas donzelas, pelo ar. Quando ouvia as histórias fantásticas de mistérios e grandes feitos, algo formigava forte na nuca do herói. Sentia-se atraído pelas lendas, pelo perigo, via na exploração do desconhecido uma forma de sentir-se vivo. Simplesmente deixava-se levar, e o destino lhe premiava com aventura e objetos de grande valor.

Foi assim que partiu de Portuna, foi assim que viajou pelos reinos, foi assim que acabou neste navio.

As histórias cantadas aqui e lá, escapando dos beiços trôpegos de bêbados e de anciões a beira da senilidade, geralmente carregam mais verdade do que a maioria das pessoas acredita. E desde que ouviu de um marinheiro as histórias de Falkirk, Félix sentiu que precisava visitar a cidade. Todo ano, segundo ele, acontecia a Noite dos Mortos, a maior e mais tradicional data comemorativa oromense. Durante uma semana inteira ocorreriam festas regadas a muita bebida e dança. Comerciantes de todos os reinos se reuniriam ali para celebrar a estação do ano onde o mundo material e o mundo espiritual ficavam mais próximos. E segundo a família de pescadores, isso bem era verdade, e se tudo desse certo, chegariam ao grande porto poucos dias antes das festividades começarem. Muitas oportunidades surgiriam ali.


-

Passos arrastados sobre o convés chamaram a atenção da dupla. Pelas frestas da madeira no teto era possível ver o esboço de uma silhueta aproximando-se da porta de descida para os dormitórios. Os calçados do velho Hanns, pouco mais que sapatilhas fedorentas de pescador, desceram um a um dos degraus da entrada, até que o homem curvo parasse entre os dois aventureiros. -Não se enxerga nada mais a frente. -Disse ele com aqueles olhos escuros, espremidos no rosto castigado pela idade e pelo sol. Ele pareceria uma estátua de madeira, diante daquela luz, se não carregasse vida em seus olhos e movimento em seus músculos. -Pelos meus cálculos, estamos quase em cima do Passo Amigo. Mas sem enxergar bosta nenhuma, vamos bater nos rochedos e acabaremos encalhando. Preciso de vocês.

E deu as costas, enrolado na capa que usava para se abrigar da chuva e das ondas. Subiu as escadas, rangendo a madeira das tábuas uma a uma.

-Rápido!

Saturno
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[Ato 1] Regalos do Trovão Empty Re: [Ato 1] Regalos do Trovão

Mensagem  Duda Sáb 18 Set 2010, 19:49

Textos indecifráveis ... Dragões de 2-cabeças ... no que diabos você andou se metendo velho amigo?

Albeon olhava com bastante admiração o livro deixado por seu amigo, mas com muito medo ao mesmo tempo., ele era um soldado, e agora acabara de entrar em um mundo com significados obscuros e sinistros. Aleon nunca foi particularmente um simpatizante das artes arcanas, sempre sentiu que o poder que a magia trazia era de alguma forma, Maligna, Vil, sentia isso ao ver as ordens arcanas de sua cidade natal, a capital de Azura, lutarem uns contra os outros, disputando por poder.

Por mais estranho que isso parece ser, vindo de um azurita, aparente mente as amarras do destino são fortes demais para serem quebradas, estando agora, aprendendo em pequenos passos as artes arcanas, mas ao menos fazia isso com um propósito, com um objetivo sólido, encontrar seu amigo. Só esperava poder continuar dizendo isso após encontrar Carver ...

Estava então agora em um pequeno barco pesqueiro, velejando em direção a Falkirk, cidade onde abrigava monges do deus Híspito, que poderiam possuir o conhecimento suficiente para decifrar as escritas misteriosas deixadas por Carver, na esperança de ter alguma pista para encontrá-lo. Seu alojamento no barco era pequeno e desagradável, e subitamente, o velho pescador Hanns, o capitão do barco. O homem parecia preocupado e disse necessitar de Albeon e seu companheiro de "quarto" nessa viajem. Albeon apenas o olhou com um dúvida e guardou, cuidadosamente seus pertences, e subiu para encontrar novamente o capitão.

-Não sei em que posso ser útil, sei apenas 2 coisas sobre marinhagem: que você precisa de um barco e água para navegar em cima ...
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[Ato 1] Regalos do Trovão Empty Re: [Ato 1] Regalos do Trovão

Mensagem  Saturno Seg 11 Out 2010, 23:06

-Heh. Excelente, você então sabe tudo o que precisa saber...

Disse o velho escada acima, olhando para baixo com um sorriso de poucos dentes, e então desapareceu na noite. Albeon ergueu-se da rede desconfortável para seguir os passos do velho, mas percebeu com o canto dos olhos que o outro carona, Felix, permanecia engraxando suas botas, como se não tivesse ouvido Hann.

Passou pela sua cabeça cutucá-lo, mas uma nova investida do velho, na forma de um grunhido lá do convés, fez com que o aventureiro desse de ombros e seguisse pelos degraus. Alguns passos na madeira envernizada e o Azurita se apertava nas suas roupas ao contemplar a noite e seu frio entristecedor. O mundo ali causava apreensão e medo: um espectro cinzento e espesso rodeava todo o navio. Não era possível enxergar nada além da névoa, que parecia até engolir pouco a pouco a luz dos lampiões do navio. Se lhe dissessem que haviam morrido e agora navegavam para o mundo dos mortos, não seria difícil de acreditar.

O aventureiro respirou aliviado ao reconhecer mais adiante, no convés mal iluminado que balançava vagaroso para lá e para cá, a silhueta encurvada de Hann e de um de seus filhos moços, alto e magro. Estavam a estibordo, remexendo algumas cordas, e ao perceber o Azurita, o velho imediatamente se pronunciou.


-Onde está o outro? Bah! Não acredito que carrego nas minhas costas mais um vagabundo imprestável!

O filho, que terminava de descer um pequeno barco de madeira até as águas escuras através de uma roldana e muitos metros de corda resistente, acalmou seu pai. -Tudo bem, papai... eu posso ir com ele. Não se incomode tanto, já tenho idade pra guiar o barco.

Começando a ficar curioso com o que poderiam querer dele, Albeon aproximou-se da borda do navio, enxergando o bote balançando naquele imenso lençol negro que era o rio. O velho tocou-lhe o braço, entregando ao aventureiro um lampião. Não oferecia muita escolha, praticamente empurrando o objeto contra o peito de Albeon.

-Vocês pediram carona, vocês ajudam. Como você disse, barcos precisam de água para navegar. Acontece que o Passo Amigo é muito estreito e possui rochedos traiçoeiros. Preciso de alguém mais a frente, para ajudar a navegar a embarcação.

Enquanto Hann falava com o Azurita, seu filho passou as pernas por cima da borda de madeira da embarcação e, através de uma corda, desceu com destreza até o trêmulo bote lá embaixo.
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[Ato 1] Regalos do Trovão Empty Re: [Ato 1] Regalos do Trovão

Mensagem  Guima Qui 14 Out 2010, 23:33

Felix chegou a tempo de ouvir o velho dizendo que ele era mais um vagabundo imprestavel a navegar no Peregrino Amigo, com um sorriso sarcastico, Finn riu do comentario e logo respondeu Calma lá meu bom homem !! Felix Finn estava ocupando lustrando suas botas, e para a ajuda que vc precisa, acredite, elas serão de grande valia. disse o pequeno gatuno com as mãos na cintura e um sorriso largo no rosto demonstrando uma certa soberba.

Quando o filho de Hann se propõs a descer la embaixo Felix interveio se aproximando do garoto e levando uma de suas mãos aos ombros do mesmo Não se atrevas a fazer nenhuma besteira garoto !! Deixe que Felix verifique o que há la embaixo, acredite, não há um ser nas redondezas com destreza e habilidade maiores do que a minha. Portanto não se arrisque, fique com seu pai e ajude-o aqui em cima !!

Dito isso o gatuno pegou na corda com firmeza e antes de descer, acenou para Han, seu filho e Albeon com grande confiança Até a vista, nobres ! e desceu ...
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[Ato 1] Regalos do Trovão Empty Re: [Ato 1] Regalos do Trovão

Mensagem  Duda Qua 27 Out 2010, 15:35

-Você precisa de alguém para observar então, ter certeza de que o Passo Amigo não vai em direção de nenhuma formação rochosa ou algo assim. Certo, eu posso fazer isso, nada mais justo ao meu ver.

Albeon prontamente entra no bote, nota que o homem que dividia as acomodações agora se fazia presente, e era um tanto quanto "vivo", mas com certeza parecia ser um homem bastante capacitado.

-Iremos precisar de algumas tochas para podermos enchergar. - Comunicou o Azurita para o velho Hann, apenas aguardando e preparando os seus sentidos.
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[Ato 1] Regalos do Trovão Empty Re: [Ato 1] Regalos do Trovão

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